domingo, 16 de setembro de 2012

ESTRÉIA DO ESPETÁCULO AYÊ 20/09/12 18H PRAÇA BRIGADEIRO SAMPAIO




A trajetória do primeiro quilombo urbano titulado do Brasil, que resiste até hoje no bairro Três Figueiras em Porto Alegre, é pano de fundo para o espetáculo Ayê, com estreia marcada para o dia 20 de setembro, na Praça Brigadeiro Sampaio, às 18h. A data máxima do Estado marca também o início da primeira temporada da peça que, ainda que conte uma fábula de um povo que poderia ser de qualquer lugar do mundo, resgata a história de afrodescendentes da Capital e desmistifica o estereótipo de que os gaúchos 
descendem apenas de europeus. Utilizado como base para a montagem, o Quilombo da Família Silva é mais que inspiração para a dramaturgia: representa a importância da população negra para a história do Rio Grande do Sul.



Ayê, que significa Terra, na língua yourubá, foi criado a partir de uma bricolagem de materiais coletados e experiências pessoais dos atores e diretores, se configurando como espaço para discussão de temas universais. Traçando uma linha tênue entre os papéis de manipulador e manipulado, composto de rituais e imagens que partiram destas histórias pessoais, e de outras, míticas ou fictícias, o espetáculo revela como aquela comunidade sempre resistiu à opressão urbana e social (e atualmente à especulação imobiliária), sendo inclusive protagonista de um episódio de desobediência civil a um despejo. Mesmo que mostre a força dos personagens conquistando o título de seu pedaço de terra, a encenação é leve e apresenta a essência das relações familiares e do cotidiano do quilombo, formado por casas de madeira reunidas em um território pacífico, onde as roupas balançam nos varais enquanto as crianças brincam.


Poucas palavras, música, dança, além do trabalho corporal expressivo e pulsante do coletivo de atores negros remetem, na peça, para um universo de mitos, lendas e narrativas oriundos de comunidades africanas e de quilombos urbanos. O público enxergará o caminho percorrido pelos ancestrais da população afrodescendente quilombola, que libertos da escravidão passaram a viver como nômades, depois encontraram uma terra e a cultivaram. Este local floresce e recebe as novas gerações, que, atentas às histórias repassadas pelos avós, mantêm viva a memória da comunidade, valorizando sua luta pela terra e a resistência em manter este lugar.
Contemplado pelo II Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras, realizado pela Fundação Cultural Palmares e pelo Centro de Apoio ao Desenvolvimento Osvaldo dos Santos Neves (Cadon), com o patrocínio da Petrobras, Ayê envolve o expectador e o convida a celebrar em momentos que ora refletem o cotidiano bucólico familiar, ora um baile de carnaval, ora a memória dos ancestrais, trazendo para o presente as questões do passado, as origens do Brasil e talvez da humanidade. Mais do que uma história linear, reflete sobre o direito pela terra, ancestralidade, e ainda sobre um Brasil rico e antevindo também da África – um lugar de resistência, luta, som, alegria e tristeza. Longe de tudo; perto de todos.

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