quarta-feira, 18 de abril de 2012

PEDAGOGIA GRIÔ: HORIZONTE DESENHADO POR MUITAS MÃOS



Numa proposição do GAPP, através da Assessoria Pedagógica de Educação das Relações Etnicorraciais, da SMED Porto Alegre, estão  ocorrendo as ações que dão início a uma caminhada na busca da definição de práticas pedagógicas baseadas em Princípios e Procedimentos da Pedagogia Griô existentes na rede municipal de ensino e que possam ser melhor aproveitadas pelos professores e alunos das comunidades escolares.  Até agora QUINZE escolas, envolvendo comunidades escolares das quatro regiões da cidade de Porto Alegre, já receberam o documento de SENSIBILIZAÇÃO e a visitação da Assessoria Pedagógica para o início das conversas e ações de elaborações.
A cada um dos SOPs comunicados e professores(as) interessados, dentre  os/as quais muitos(as) colegas já vêm realizando trabalhos interessantes, foi dado o recado e os primeiros passos no sentido de realizar, nos CONJUNTOS COLABORATIVOS das comunidades escolares, ações corajosas que visem ao melhor aproveitamento, junto aos bancos escolares, dos SABERES ADVINDOS de pessoas e ambientes não formais de educação.
O contato com a Pedagogia Griô é uma ação provocada pela instância do governo QUE VAI AO ENCONTRO DE PRÁTICAS JÁ EXISTENTES NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE PORTO ALEGRE. 

Tem o intuito de INCENTIVAR O EFETIVO TRÂNSITO DE SABERES das atitudes geradoras de linguagens, modos, fazeres didáticos e colaborativos contidos nas várias ações educativas (LINDAS E POR VEZES ISOLADAS) de professores(as) e educadores(as) populares que já estão inseridos  nas instâncias das comunidades  escolares, em seu entorno e na cidade como um todo. Nesse sentido A BUSCA DE MAIS UMA REDE DE COLABORAÇÃO ESTÁ SENDO INICIADA através da divulgação das ações já realizadas pelas escolas juntamente com a estruturação de grupos de professores, educadores, agentes sociais, pais e alunos EM TORNO DA PROPOSTA DAS PRÁTICAS DA PEDAGOGIA GRIÔ. Dentro dessa perspectiva as lindas ações existentes na rede escolar se retroalimentarão PARA CONSOLIDAÇÃO DE UMA PRÁTICA EDUCATIVA mais próxima dos objetivos da AÇÃO GRIÔ NACIONAL, rede da Pedagogia Griô que vem sendo solidificada pela ação da Assessoria Pedagógica da SMED Porto Alegre, como produto da história desse espaço de governo.
OBJETIVOS DA PEDAGOGIA GRIÔ
Valorizar a cultura e a integração das idades como elementos estratégicos e fundamentais à ação pedagógica de permanente reconstrução do fio da história e fortalecimento da identidade dos adolescentes e jovens envolvendo suas próprias atitudes protagônicas para interromper o ciclo intergeracional da pobreza e violência.
A Pedagogia Griô se caracteriza ainda por facilitar as vivências afetivas e culturais, o diálogo entre “aprendentes”, a escola e seus projetos, a comunidade e entre grupos étnico-raciais, interagindo saberes ancestrais de tradição oral e as ciências formais para a elaboração do conhecimento e de um projeto de vida que têm como foco o fortalecimento da identidade e a celebração da vida.
O QUE É GRIÔ?
É uma palavra abrasileirada pelo ponto de cultura Grão de Luz e Griô, de Lençóis, Bahia. Vem de Griot, da língua Francesa, que traduz a palavra Dieli (jéli ou Djeli), que significa o sangue que circula, na linga bamanan do povo Mande (Malinkê ou Mondingo), habitante do território antigo do império Mali, noroeste da África. Na tradição oral do noroeste da África griô é um(a) caminhante, cantador(a), poeta, contador(a) de histórias, genealogista, artista, comunicador(a) tradicional, mediador(a) político(a) da comunidade. Ele(a) é o sangue que faz circular os saberes e histórias, mitos, lutas e glórias de seu povo, dando vida à rede de transmissão oral de sua região e país.
NO BRASIL
A palavra griô se refere a todo(a) cidadão(ã) que se reconheça e/ou seja reconhecido(a) pela sua própria comunidade como: um(a) mestre(a) das artes, da cura e dos ofícios tradicionais, um(a) líder religioso(a) de tradição oral, um(a) líder comunitário, ou um(a) brincante, um(a) cantador(a), tocador(a) de instrumentos tradicionais, contador(a) de histórias, um(a) poeta popular, que, através de uma pedagogia que valoriza o poder da palavra, da oralidade, da vivência e da corporeidade, se torna a biblioteca e a memória viva de seu povo.  Em sua caminhada no mundo, ele(a) transmite saberes e fazeres de geração em geração, fortalecendo a ancestralidade e a identidade de sua família ancestral e comunitária. São exemplos das griôs e dos griôs no Brasil: Congadeiro(a), jongueiro(a), folião(ã) dos reis, capoeira, parteira(a), zelador(a) de santo, erveira(o), caixeiro(a), carimbozeiro(a), rezeiro(a), cirandeiro(a), maracatuzeiro(a), coquista, marujo, artista de circo, artista de rua, bonequeiro(a), mamulengueiro(a), catireiro(a), repentista, cordelista, pajé, artesão(ã), poetas regionais e comunitários, contadores de histórias e fazedores (as) de todas as demais expressões culturais populares que se desenvolveram e se transmitem por tradição oral.
Na África, cada ancião que morre é uma biblioteca que se queima” Hampáte Ba, Mestre africano de tradição oral.
O QUE É PEDAGOGIA GRIÔ?
É uma pedagogia da vivência afetiva e cultural que facilita o diálogo entre as idades, entre a escola e a comunidade, entre grupos étnico-raciais interagindo saberes ancestrais de tradição oral e as ciências formais para a elaboração do conhecimento e de um projeto de vida que têm como foco o fortalecimento da identidade e a celebração da vida. A valorização da cultura e a integração das idades são estratégias fundamentais para a reconstrução do fio da história e fortalecimento da identidade dos agentes do processo educativo como instrumento importante para o rompimento do ciclo intergeracional da pobreza e violência local.
A Pedagogia Griô, criada por Líllian Pacheco, tem como referenciais teóricoss e metodológicos a educação biocêntrica de Ruth Cavalcante; a educação dialógica de Paulo Freire; a educação para as relações étnico-raciais positivas, de Vanda Machado; a arte educação comunitária, de Carlos Petrovich; a educação que marca o corpo de Fátima Freire; e é inspirada na pedagogia de todas as expressões culturais de tradição oral, principalmente de raízes afro-indígenas.

REFERENCIAIS TEÓRICOS


CAVALCANTE, Ruth. Educação Biocêntrica: aprendendo e ensinando na pedagogia do encontro - Vivenciando a biodança. Fortaleza, Instituto Paulo Freire, 2004.
CAVALCANTE, Ruth. “Educação Biocêntrica: a pedagogia do encontro”. Revista de Educação da EAC - Formação de profissionais de educação, vol. 29, nº 115, abr/jun. Brasília, AEC, 2000.
CAVALCANTE, Ruth. “A educação biocêntrica na formação plena do(a) educador(a)”. Monografia de especialização, UVA. Fortaleza, 2000.
DOWBOR, Fátima Freire. Quem educa marca o corpo do outro. São Paulo, Cortez, 2007.
FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1994.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1981.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo, Paz e Terra, 1997.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1994.
MACHADO, Vanda. Ilê Axé: vivências e invenção pedagógica. Salvador, EDUFBA/SMEC, 2000.
MACHADO, V. & PETROVICH, C. Ajaká. O menino no caminho do rei. Salvador, TEA/UFBA/SMEC/PMS, 2001.
MACHADO, V. & PETROVICH, C. Ire Ayó. Mitos Afro-brasileiros. Salvador, EDUFBA, 2004.
PACHECO. Lillian. Pedagogia Griô – A reinvenção da Roda da Vida.  Lençóis, Bahia, 2006
PACHECO, CAIRES. Lillian, Márcio (Org.). Nação Griô – O parto mítico da identidade do povo brasileiro. Lençóis, Bahia. 2009.
DEMO, Pedro. Metodologia do Conhecimento Científico. São Paulo: Atlas, 1981. 159p.
SITES

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